VICENTE GOLFETO
Economia é o território do interesse. Empresa é o útero de onde deve nascer a riqueza. Família é sentimento.
Difícil, como se vê, a conciliação. Já demos nossa definição. Que repetimos. Família é um conjunto de pessoas unidas pelo sangue e separadas pelo dinheiro. Provérbio brasileiro diz que “cachorro é amigo do homem porque não conhece dinheiro”.
Só que a empresa brasileira, em geral, é preponderantemente familiar. É a mistura difícil de sentimento — da família — com riqueza cuja expressão é o dinheiro da empresa.
Como conciliar, já que esta é a realidade? Bom realista nada mais é do que aquele que, conformando-se com a realidade, tenta alterá-Ia. E para melhor.
Vamos enumerar alguns itens de conduta entre os sócios da empresa — pais, filhos, irmãos, irmãs — que carecem de ser considerados para, tanto quanto possível, reduzir os atritos que o dinheiro gera e o sangue não tem força para amortecer:
I – Não misturar contas das pessoas físicas com contas da pessoa jurídica, Exemplo: um sócio comprou um eletrodoméstico e paga esta conta não com o seu dinheiro, mas com dinheiro da empresa. Separar as contas é saudável e reduz focos de atritos;
2 – Ter certeza absoluta de que ideias de pais e filhos são diferentes. É o desdobramento de eterno conflito de gerações. Não levar as coisas muito à ponta de faca. Ideias diferentes formam a biodiversidade intelectual. E o que era condição de riqueza – ideias divergentes – passa a ser foco de atrito, prejudicando o desenvolvimento da empresa. A maior parte das pessoas que não sabem muito tem opiniões fortes.
Goethe dizia que “com o aumento do conhecimento vem a dúvida”. Há empresas constituídas sob a forma de S/A que mundialmente têm sucesso. Há empresas familiares que são sucesso. O grupo Votorantim, por exemplo. Outro exemplo: o Pão-de-Açúcar. Isto para ficarmos apenas em duas. Não se pode confundir má gestão com destino: nem das pessoas físicas e nem das empresas familiares.
3 – Empresa não deve emprestar dinheiro para sócio. A não ser que a empresa seja banco. Como a maior parte não é, o sócio que seja cliente de um banco na condição de pessoa física.
4 – Cada sócio deve ter uma retirada compatível com o faturamento da empresa. Sócios que descapitalizam a empresa com elevada retirada acabam gerando realidade antiga, mas incompatível com os dias de hoje: empresa pobre e empresário rico;
5 – Filhos — se a empresa for dirigida pelo pai — ou pais e irmãos, se a empresa for dirigida pelos filhos, não podem ter privilégio em relação a outros empregados e funcionários. Mas esta conduta tem que ser clara.
O empresário tem que ter a seguinte consciência. A empresa é mais do cliente do que do empregado. E mais do empregado do que dele mesmo.